terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Türkiye - Museu ao ar livre, Vale do Amor, tapeçaria

Depois do Vale de Ihlara foi anoitecendo e encerramos as visitas do dia. Bianca e eu saímos com um pessoal que conhecemos na viagem para um típico bar turco. Fomos até lá (a cerca de 1km do hotel) a pé. Não preciso retomar a intensidade do frio. O garçom, que aliás era uma figura, ficou super feliz de ver gente entrando no bar que, apesar de bom, não tinha movimento nenhum. As cervejas, por exemplo, ele não buscava na geladeira, porque com essas temperaturas ela é totalmente desnecessária. Os engradados ficavam na calçada - também não passava ninguém por perto para ele correr o risco de ser roubado. Ficamos de voltar no dia seguinte - e cumprimos! - , então ele negociou descontos com os táxis para a gente, nos dois dias. A pé pela madrugada não rolaria, as articulações travariam, certamente.
Cedinho já partimos rumo ao Museu ao Ar Livre de Göreme, local com várias igrejas rupestres perfuradas em monólitos vulcânicos.
        




O frio traz desespero

 
No século V eram 365 igrejas. Nelas havia dois dormitórios, um para os monges e outro para as monjas. Ao lado, estavam os armazéns e os refeitórios.
Os nomes das igrejas não são autênticos, pois não há registros históricos da Capadócia. Algumas delas:
Igreja de S. Basílio, séc. II d.C. Ele fundou o primeiro monastério do mundo. Dentro dessas igrejas também havia cemitérios e ossários. Entre os séc. V e XIV usaram o monastério sem parar, o que exigiu que as tumbas e os ossários fossem recliclados.
Igreja "Maçã": nela há muitos afrescos que contam a vida de Jesus e várias histórias da Bíblia. As pinturas são, provavelmente, da segunda metade do século IX.
Igreja Sta. Bárbara: ela era filha do governador de Nicea (séc. II d.C), que a assassinou porque ela se converteu ao Cristianismo. É a primeira mártir do mundo - li versões diferentes e contraditórias da história, mas essa é a que nos foi contada pelo guia. Nessa igreja as pinturas são mais rústicas.













Depois da olhadinha nas tendas e - por quê não? - umas comprinhas, seguimos caminho para um dos cartões postais mais conhecidos da Capadócia, em que se encontram duas pedras verticais com uma menor no topo de cada uma, como se estivessem equilibradas (o tal tipo de formação de chaminés de fadas): a Fortaleza de Uçhisar, cuja foto está logo mais abaixo.
Essa montanha branca que aparece ao fundo de algumas fotos (visível também desde o Vale de Ilhara), e que é uma das vistas que se aprecia do alto da Fortaleza, é o Monte Ararat, a montanha mais alta da Turquia moderna. Tecnicamente, é um estratovulcão, ou seja, é um vulcão em forma de cone, formado pelo magma extravasado. É coberto por neves perpétuas e também é identificado como sendo o local onde a Arca de Noé teria tocado terra firme após o Dilúvio. Na internet se encontram mil e uma opiniões afirmando ou desmentindo essa questão. Antes, é preciso acreditar na existência de uma embarcação capaz de abrigar um casal de cada espécie animal do mundo, mais água, comida, etc. Depois, imaginar como toda essa bicharada mais Noé e família fizeram para descer uma montanha super íngreme de 5.165m, cheia de neve e com temperaturas negativas. Aí sim: será, hein?

Nunca se registrou nenhuma erupção do Monte Ararat, mas supõe-se que nos últimos dez mil anos elas tenham ocorrido. A causa do vulcanismo não é bem compreendida pelos cientistas, já que a montanha está longe de qualquer placa continental. Loucura.





Aí está: Fortaleza Uçhisar


Mamãe surpreendeu na coragem!

Era muito alto, as pedrinhas escorregavam, e o vento estava forte! Eu fui mais medrosinha, hehe
(Ararat no meu pescoço)









Saindo dali, fomos apreciar - e eu nem esperava que fosse me admirar tanto com isso - a arte milenar dos tapetes tecidos à mão! Não sou fã desse, digamos assim, objeto de decoração, mas preciso dizer que todas as etapas da confecção artesanal são impressionantes. O cara que nos recebeu e guiou nossa visita pelas instalações falava com tanto desprezo e ironia dos tapetes tecidos nas máquinas, que acabei indo pela onda dele e valorizando muitíssimo mais o trabalho feito por aquelas mulheres, que dura meses e, às vezes, anos.
Organização total: vamos observando cada parte do processo até o momento em que nos levam a uma grande sala, nos oferecem chá turco, raki, água ou vinho branco, tudo por conta da casa, e começam a nos apresentar verdadeiras obras de arte, todas a precinhos camaradas: 2 mil euros, 6 mil euros... coisa pouca.
Tudo explicado em espanhol e milimetricamente calculado e coreografado. No meio das frases que o demonstrador diz, algumas palavras devem ser código para que os "carregadores" tragam o tapete X ou Y, porque ele só põe a mãozinha para o lado e a peça já está estendida ali para ser mostrada.
Vimos peças extremamente delicadas, com espessuras de papel e desenhos hiper detalhados, como os de 144 nós ("pontos" da tecelagem) por cm².
Antes de ir para venda, os tapetes são "queimados", lavados, escovados e centrifugados. Como a tecelagem pode durar muito tempo, a poeira acumulada precisa ser retirada.

Sem nenhuma compra feita (nada entrava no orçamento, claro), fomos ao Vale do Amor, cuja paisagem já tínhamos avistado das alturas, quando estávamos no balão.


Vale do Amor.
Eu disse que explicaria o sentido do nome, mas deixarei que as imagens falem por si...  Basta romantizar.









   


Pura simpatia na "entrada" do vale

Já pela noite, fomos numa oficina/loja de jóias. Primeiro, tivemos a demonstração de algumas coisas sendo esculpidas em pedras preciosas e depois sendo polidas, a explicação sobre a diferença entre algumas pedras, a informação de como reconhecer turquesas verdadeiras - aliás, alguém já tinha reparado no nome? Deriva do francês "turquoise", que significa "oriundo da Turquia".
Rapidamente chegamos ao momento das compras, e como as jóias eram o alvo, a atividade não foi lá tão turística. Eu me limitei aos chás de maçã oferecidos, mas mamãe...
No hotel, banho e arrumação total de malas, já que no dia seguinte nos despediríamos cedinho da Capadócia e da Turquia, de forma geral. Não deu tristeza, mas uma vontadezinha de que durasse mais.
Antes do sono, outra chegadinha ao bar do nosso garçom figura, e a noite foi muito engraçada! O espaço era pequeno e quase todos os espanhóis do nosso hotel (que eram muitos, garanto) se dirigiram para o lugar. A galera comandou o som e dançou animadamente vários estilos musicais, inclusive a sevillana - mas dessa parte a gente exclui os catalães.
A brasileira aqui não sambou, hehe