quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Sitges e louca do Park

Como o calor tomava conta da cidade (ainda toma), fomos a Sitges, praia famosa aqui pelas redondezas e com bastante coisas voltadas para o turismo gay (htttp://www.gaysitges.com/portada.html)
Ao contrário de Tarragona, a cidade é bem mais "prática" para quem vai passar um dia/tarde, por exemplo, como foi o nosso caso. Tarragona é linda, mas a cidade fica super no alto, então ir para a praia, comer e voltar dá um grande trabalho.
Sitges é bem mais plana e não tem tanta cara de praia, a não ser quando se chega na orla realmente. As ruelinhas são um amor e é tudo super movimentado (mas tem siesta, é claro). Não ficamos até anoitecer, mas a fama das festas de lá é imensa! No finalzinho da tarde as ruas já estavam abarrotadas de gente que parecia ter chegado para virar a noite.

Protegida do sol e da chuva (quem dera chovesse nessa terra)...


O Mediterrâneo estava uma delícia, hihi.
A praia em si tem uma boa infra-estrutura: vestiário com chuveiros, banheiros e cabines para trocar de roupa - um velhinho fica na porta cuidando e exige sempre algum dinheiro para liberar a entrada, mas pode ser qualquer moedinha - e duchas na areia. Para que haja economia de água e a galera não abuse, são vendidos cartões nos chiringuitos ( = quiosques) com direito a 6 minutos de ducha (cada uma tem um suporte para o cartão com um sensor, e enquanto ele está encaixado ali a água vai saindo). Na realidade não é bem uma venda, e sim um aluguel, porque se paga 2 euros e, na hora de ir embora, é só devolver o cartão para receber o dinheiro de volta. Caso os minutos acabem, dá para ir pagando e recarregando o cartão (esse dinheiro não é reembolsado, o que de certa forma faz as pessoas evitarem passar horas debaixo do chuveiro).


Dois em uma foto: demonstração de amor à nossa terra, e homenagem a uma vaca folgada aí que conhecemos ahahahah

Susana está super indignada e revoltada com os espanhóis que, como se já não bastasse reproduzirem uma quantidade absurda de falsificações das nossas queridas Havaianas - todo mundo usa, de uns tempos para cá estão adotando o chinelo de dedo como símbolo. Ela acha inadmissível "porque isso é nosso. Ora, que desaforados!"
De volta a Barcelona, fomos ao Park Güell no horário menos turístico que já fui até agora. Achamos incrível que o famoso lagarto de Gaudí, logo na entrada do parque, estivesse vazio sem um monte de gente metendo a mão na boca dele, e aproveitamos para fotos.
Está certo que eu sou MORADORA da cidade, mas tive que acompanhar as gurias no momento TURISMO - hihi




Foi BEM nesse momento, a menos de três metros da gente, que uma mulher de cabeça baixa começou a chorar.
Ela estava sentada com o rosto entre as mãos e acompanhada de um cara, que ficou meio sem reação quando ela começou a chorar. Ele intercalou o olhar umas três vezes entre ela e a saída, e sem precisar pensar muito, se levantou e saiu como se não a conhecesse.
Tínhamos visto que ela estava meio mal porque reparamos, só isso. Mas ela começou a dar uma choradinha um pouquinho mais sussurrada, com algum som. Dada e eu cogitamos perguntar se ela precisava de ajuda, mas num período como CINCO SEGUNDOS depois, ela abriu o berreiro, chamando a atenção de quem estava em volta.
Foi um verdadeiro escândalo, porque a reação que ela teve ao provável término de namoro foi aumentando em progressão geométrica. Começou a berrar, praticamente urrar, até que se jogou no chão gritando "Oh, God, oh noooo! I love you, I love you... oh God!!! I love you!!!! Please, love me, love me! Love me, I love you, please, love meeeee!!!!!" Passou a bater as palmas das mãos no chão e sacudir a cabeça, e todo aquele movimento do cabelo desgrenhado dava ainda mais dramaticidade à cena. Ela começou a perder o fôlego de tanto chorar e teve uma série interminável de tremedeiras pelo corpo, foi um ataque nervoso mesmo!
Para situar: a partir da entrada principal do parque, tem uma parte plana, onde tem a lojinha e essa "casa" com telhado de mosaico que aparece no título do blog. Depois, essa primeira escada do lagarto, um patamar, e nova escada, que dá acesso a essa parte debaixo das colunas, que tem o teto todo forrado de mosaicos. Esse teto "nada mais é" do que os bancos cheios de curvas e - claro! - mosaicos, que também estão aí no topo do blog (de onde é possível ter a vista da cidade).
Bom, eu estava no lagarto chocada assistindo aquilo tudo e, por nada, resolvi olhar para cima (onde ficam os bancos). Eram centenas de cabecinhas que se debruçaram ali para tentar entender o que estava acontecendo, porque os gritos ecoaram por tudo - e o Park Güell é imenso!
Uma senhora ajudou a moça a se levantar do chão, sentou nessa fontezinha e a abraçou. Ela pediu para alguém ir até o carro dela e providenciaram água para a outra beber. Mais duas ou três pessoas se aproximaram e ficaram tentando falar, em espanhol e em inglês, mas ela não respondia a nada, só chorava e deitava a cabeça no ombro da que foi ajudar ela primeiro. Vi que pelo menos dois outros prestativos (todos estávamos imóveis por não saber que tipo de reação ela poderia ter com a aproximação de alguém) ligaram para algum órgão e começaram a descrever o que tinha acontecido, dizendo que ela devia ser turista e estava sozinha ali. Fomos indo embora e poucas quadras depois vimos uma ambulância indo na direção do parque.
Cogitamos várias alternativas para o que poderia ter acontecido. Ficou meio evidente que ela levou um fora, mas também não sabemos sob que circunstâncias. A relação podia ser de anos como também ser super recente, e ela ter demonstrado desde cedo um comportamento doentio. Bom, não cabe eu levantar aqui as inúmeras possibilidades que pensamos, até porque passamos boa parte do trajeto até o Bairro Gótico inventando teorias para essa história.
Coitada dela se estivesse só com o namors aqui, porque certamente ficou sozinha.

Acabamos a noite com sidra, sangria e tapas/pintxos na parte mais antiga da cidade.