terça-feira, 11 de agosto de 2009

Tossa de Mar

Essa última viagem foi rápida: um único final de semana, mas que nos possibilitou conhecer alguns lugares, todos lindíssimos.
Nossos trajetos, feitos no lindo carrinho que alugamos, foram guiados pelo GPS. Por estarmos na Espanha, começamos com uma guia espanhola. A coitada foi tão insignificante que nem lembro do nome.
Nossa verdadeira companheira foi Catarina, a portuguesa, responsável por muitas risadas. Ela se desnorteou por algumas vezes, nos confundiu e quase nos fez permanecer infinitamente girando em uma ou outra "rotunda".
Estou pensando em criar uma personagem e desenvolver minha própria narração para GPS. A conselheira, ainda sem nome, teria um pouco mais de bom humor, mas também teria uma lista de xingamentos para o motorista, sempre que ele errase/não seguisse o caminho indicado. Expressões de Susaninha, principalmente no que diz respeito à agressões verbais no trânsito, provavelmente seriam incorporadas no vocabulário, tamanha a criatividade.
"Você errou a curva novamente, deve estar estressado. Não deixe de salgar o rabo quando parar na praia, vai lhe fazer bem", poderia ser uma das aplicações desse linguajar de tão alto nível.
Nosso repertório musical também foi super vasto, incluindo letras francesas otimamente pronunciadas pela Dada e por mim, influência justificada - em parte - ao nosso período em Paris.
Fica a dica para quem quiser estar a par de um dos lugares de destaque nas paradas de sucesso espanholas: Bebe - Me fui


O ponto forte mesmo é o refrão:
"y mientras ¿DÓNDE ESTABAS CUANDO TE LLAMABA?"
e assim se repete, sucessivamente.
Quando toca no ônibus as crianças vão ao delírio.

Bom, as informnações:
Tossa de Mar é um município da Espanha na província de Girona, comunidade autônoma da Catalunha - o que se torna estranho para mim: a impressão que tenho é que o catalão só existe em Barcelona; quem dera.
Costa Brava é o nome dado à região turística da costa espanhola desta comunidade. Ela é limitada ao norte pela Costa Vermella (Côte Vermeille, França) e ao sul pela Costa del Maresme.
Estivemos em algumas praias da Costa Brava e não há dúvidas quanto à beleza delas. Só não posso deixar de pontuar o desagradável de todas em que estivemos: a areia. Digo areia somente para me referir ao chão da praia, porque ela, em si, parece não existir. Em Tossa, o chão é recoberto de pedrinhas - para não dizer pedregulhos. Em Cadaqués, onde fomos no dia seguinte, ele é cheio de cascalho.
Vantagem: ausência da areia (é claro), o que me deixa contente ao recolher as cangas sem precisar me preocupar para que o vento não a leve toda para cima de alguém, e me livra da profunda agonia de tê-la grudando no corpo, principalmente ao passar protetor ou voltar da água.
Desvantagem: desconforto total. Quando se está deitado em uma canga, não há saída: de bruços, doem os joelhos, dói a barriga, dóem os peitos (e há quem consiga fazer topless nessa situação!); de barriga para cima, dói a cabeça, a lombar e a bunda. De frente ou de costas o corpo fica todo marcado, e nem é preciso estar deitado/sentado há muito tempo.
Se a solução for levar cadeira, existe uma grande chance de que ela quebre.

Não sou daquelas que sequer pisa na água, mas também não sou das que não pode deixar de entrar e ficar horas ali. O fato é que entrei no mar quando nós, os jovens (hehe), passeamos de barco (mamães medrosas/preguiçosas fincaram âncora nos pedregulhos) e estava uma maravilha! A temperatura é uma delicinha e a vista é deslumbrante.
Aliás, foi nessa situação que Leandro, Dada e eu fomos advertidos por um casal sem a paz no coração: eles estavam sentados na beira da água (beira mesmo, com as ondinhas batendo nos pés) em um trecho em que a faixa de "areia" (ok, já deu para entender que estou falando do chão) era super estreita. Atrás deles havia um grupo de pessoas e precisávamos passar, e é óbvio que o fizemos pela frente deles, por dentro da água. Os queridos não gostaram, não queriam ninguém atrapalhando a visão da paisagem que eles estavam tendo, e alegaram que a praia era grande e não precisávamos passar JUSTAMENTE por ali. "Va fanculo" foi a resposta da galera para eles, hihi. Eu estava pelo barraco e fiz cara de "Qual foi?", com mãozinha na cintura e queixo levantado, mas como prezo por minha vida e - por isso - já estava a alguma distância deles, acho que sequer fui vista.
Ah, mais uma coisinha em defesa das pedras: nessa praia onde estava o casal, principalmente na beira do mar, elas são muitas mesmo, o que dificulta imensamente a chegada até o fundo, já que machucam bastante os pés. Em compensação, quando as ondas batem nelas e voltam, carregando muitas nesse repuxo, o efeito visual e o barulhinho desse movimento são demais! Dá vontade de ficar horas só ouvindo esse som...
Nosso passeio de barco (não tive ótimas experiências em alto mar e não queria ir, mas fui convencida de que perderia ótimos momentos, bla bla bla. Ok, fui. Não me arrependi, ainda que o medo tenha me acompanhado nos momentos de mais balanço, ondas enormes e água entrando):

40 minutos, 2 euros... Ai, ai, essa Dada!
(Detalhe para a exclusividade do seu modelito no centro da cidade, onde NINGUÉM estava de biquíni)

No fim da tarde, subimos até o castelo de Tossa


Com a aniversariante






A cidade é um amor! Principalmente nos arredores do castelo, o que predomina são as ruelinhas e as ladeiras, com escadas ou não. A maioria esmagadora das casas é branca, dando uma uniformidade às construções. Os restaurantes por ali são um charme e, claro, caríssimos.

(Com a discrição do lugar, começo a me dar conta que as fotos que eu tinha disso não estão por aqui. Espero com todo o meu coraçãozinho que elas não tenham sido perdidas. Se voltar a encontrar, coloco outra hora)

"Não ouse me soltar, garota, eu levo você comigo!"



Quando começa a escurecer as ruas borbulham de gente. Pensamos que seria assim também quando fôssemos jantar mais tarde, mas as pessoas somem e muitos lugares fecham. Não tivemos muitas opções. Jantamos em uma pizzaria que se autopropagandeava como "The Best Sangria in Tossa". Experimentamos a de cava (Rayssa tradutora: cava=champagne, en español - haha). Boa, mas sou mais a tradicional.
Chamamos uma leve atenção cantando Parabéns, em português, para mamãe.
No entanto, o mais impactante acontecimento da noite foi, inquestionavelmente, a briga entre um dos pizzaiolos e um garçom. O primeiro ficava fazendo suas massas exposto aos clientes, já que uma enorme janela na lateral das mesas (mais precisamente da nossa mesa) permitia que quem estivesse sentado enxergasse qualquer coisa que se passasse naquele ambiente. Percebemos olhares mal encarados de um para o outro, vozes meio alteradas, até que o garçom chegou na cozinha, provavelmente fazendo alguma provocação, e foi salvo, por muito pouco, de ser acertado por um prato gigantesco na cabeça - e nós de que esse prato atravessasse o vidro e viesse em nossa direção. Todos os auxiliares de cozinha (e outros uniformizados que não sei exatamente identificar) surgiram para apartar aquele início de quebra pau. Um outro garçom veio nos atender e virei íntima dele: "¿qué pasa?", "¿pq los chicos están peleando?", "mira, tengo miedo que me vuele un plato en la cabeza" e coisas desse tipo, para risada geral dos meus acompanhantes e uma dúvida sobre como agir por parte do rapaz, se deveria se entregar ao meu humor contagiante e me contar todos os detalhes da discussão (não me enganou, sei bem que estava louco por uma fofoquinha), ou se deveria manter a ética profissional. Ele desconversou, mas não controlou seus risinhos. Mais para falar alguma coisa do que para me dizer a verdade, ele: "pelean por una chica, ¿qué más podría ser?" e eu: "aham, sí", insatisfeita com a resposta. O dono do restaurante chamou os dois envolvidos num cantinho e ficou um tempo ali papeando, ouvindo as duas versões, mas isso infelizmente não presenciamos de perto, só avistamos. Mais uma vez, criou-se uma oportunidade para nosso joguinho de dublagem, a partir da linguagem corporal de cada um.
Na saída eu disse: "no te olvides de mí, mañana paso aquí y tu me lo dices todo que se pasó, ¿vale?"
Ele concordou rindo, mas eu sim foi quem me esqueci de voltar lá. E voltaria mesmo, era pertinho do hotel.

Próxima parada: Cadaqués. ¡Hasta!